chego a ti de peito aberto, insanidade latente
nas primeiras esquinas tua noite me brinda
como uma dançarina sem rosto, nua e louca
e me afaga como um filho há muito ausente
o vento por tuas ruas é um grito de lamento
cadenciado pela melodia do teu salto sobre o chão
pelo pulsar dos olhos mirando cada movimento
ao decifrar teu corpo na intimidade da escuridão
no lábio vil de outro par, o corte frio do teu desprezo
na minha boca ainda o drama e o fernet do seu beijo
por aqui a madrugada aperta o passo da milonga
que desafina na voz triste do bandoneón forasteiro
procuro ébrio por tua silhueta na neblina do espelho
espalho a fumaça do cigarro para espantar o devaneio
da varanda, vejo teu vestido na esquina desaparecer
da cama, imagino quantos por ti ainda vão morrer
da varanda, vejo quantas esquinas para se morrer
da cama, imagino teu vestido do corpo desaparecer
no copo vil de outro bar, o lábio frio do teu desprezo
na minha boca ainda o drama e o fernet do seu beijo