latinoamerica
9.1.06
  RELÓGIO DE PULSO MINISTÓRIAS

Encostei-me ao poste na calçada desejando o regresso da menina de tranças. Daquela esquina da cidade míope não se via estrelas, somente a lua. Nas mordidas no chiclete ansiedade cuspida ao meio-fio. Quarenta reais - quatro papelotes de cocaína: noite em branco.
Gingando as tranças, passo forte de quem garantiu a tarefa, ela no alto da rua.
Vai nessa?
Tô sossegada.
Sorriso de moça-vampira.
Já meio doido entrei no primeiro boteco. Os rapazes no balcão interrogaram-me com festa. Voltava do banheiro quando uma sombra faminta derrubou minha garrafa de cerveja.

* * *

A xícara vazia; as cinzas batidas no pires; olhos fixos nas nádegas da garçonete; jornal aberto na página de esportes. Ronco no peito. Última noite sonhou com esparadrapos nos pulsos.

* * *

Pôs a mão no rosto branco do rapaz.
Está quente ainda.
O olhar piedoso da mãe Maria envolvia o filho Gabriel igual manto quente e sagrado.
Arde-me a pele.
Depositou o copo d’água na cômoda e arrastou os chinelinhos até o corredor.
Mãe, não feche a porta.
Cabeça entre as mãos um homem gordo praguejava.
Ele não vai trabalhar?
Baratas bigodudas escalam as paredes do quarto e fantasmas cochicham no escuro. Cabeça doída e garganta seca.

* * *

Nua sob o vestido, abriu as pernas provocante. Ele enterrou os dezesseis nos dezesseis dela. Ninguém ali ainda era virgem.
Ele gosta de playstation. Ela de banana-split.
ramon belame - é uma ilusão
 


trago?
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