Buñuel ao pé do ouvido
Aquele peido foi vital para que Agenor sentisse seu corpo funcionando em perfeito estado, mesmo depois das experiências surreais com a colonoscopia. Mesmo depois de anos sentado naquela cadeira da contabilidade, resultando numa escoliose que faz sua coluna arquejar e pressionar suas tripas até elas jogarem a toalha ou produzirem algum tipo de gás ainda não catalogado. O deslocamento de ar provocado pelo que acabara de sair de suas entranhas aqueceu o acento do sofá e sua bunda gorda adotou as formas abstratas que nele foram aparecendo. Olfato viciado demais para perceber o estrago. Deu de ombros e estralou aquela que seria a sua sexta cerveja na noite. A Margarete mantinha o cabelo firme com um creme que comprou da vizinha do andar debaixo e os peitos elevados com aquele sutiã de bojo americano, mas há cinco anos havia jogado a sua toalha. 175 quilos de carne morta rebolando pra lá e pra cá o dia todo. Falava com o rádio e com os gatos. Quando fazia sopa de cebola, o vapor da panela de pressão aumentava a temperatura da cozinha e a fazia suar. Dava de ombros e tirava o sebo que se formava entre as banhas com o dedo indicador. Passava nas paredes. Dia desses o Agenor topou com ela na cama. Livrou-se das peças íntimas e ficou sobre os calcanhares. A patroa tava toda ouriçada sob a camisola. Contraiu o par de pernas enormes fazendo com que a vestimenta do desejo subisse até a altura do umbigo. Agenor coçou a cabeça ao perceber que a buceta de sua mulher diminuía de tamanho na mesma proporção em que ela ganhava peso. Os peitos cresciam em direção às nádegas. Tentou em vão ter uma ereção; fez tanta força que libertou um grito de agonia uníssono por entre suas bolas. Um gato desafortunado passava por ali na ocasião e escapuliu pela tangente. O odor deixou a mulher ainda mais excitada, logo começou a fazer movimentos cadenciados pressionando o ventre com as mãos. Tomou gosto por aquilo e os movimentos foram ficando cada vez mais rápidos. Viraram socos, dos bons, alternados na região entre o estômago e os intestinos. Mordia os beiços, uivava uma espécie de lamento há muito encarcerado em alguma parte do duodeno. O suor escorria pelas têmporas, axilas, atrás das orelhas; acumulavam os litros entre as dobras daquele monte de gordura mórbida. O calor foi aumentando e os óculos do Agenor começaram a escorrer pelo nariz. O clima foi ficando quente como o diabo e uma espécie de nuvem tomou grandes proporções e pairou sobre a cama e por todo o quarto. Margarete gritou até descolar a dentadura do céu da boca. Gritou até o céu de suor e sebo romper-se em uma garoa fina e silenciosa. E então Agenor pôde ver um cagalhão comprido e delgado sair por entre as pernas de sua esposa. Pensou em pegar o adubo com as mãos, mas resolveu ajoelhar-se sob a tempestade e pedir perdão ao senhor feudal por não ter o que plantar.