Homem - estado violência
Entrou em casa às três da manhã sem acordar a mulher. Sentou no sofá um instante para descansar. A sala escura, os contornos indecisos – passos de fantasmas?, mas que bobagem. Foi até a geladeira, sentia-se fraco – extremamente fraco, talvez estivesse trabalhando demais, comendo de menos. Abriu uma cerveja. A casa escura parecia para ele casa dos outros. Se eu me achasse, pensou, mataria a mim mesmo. E começou a procurar-se. Na cozinha não se encontrou, masquemerda, foi até a sala.
"Ladrãozinho, cadê você? Ladrãozinho, vou te pegar!"
Parou na escuridão. Nada ouvia. Sentia forte pressão no peito, vezenquando mal-estar e tontura. Bandidos perigosos sabem se esconder. Talvez...
"Atrás da cortina!"
Nada.
Sentou no chão, próximo à porta. Bebeu toda a cerveja. As pernas adormeciam, os braços cada vez mais pesados... E se estivessem lá em cima, espancando estuprando assassinando a mulher? Tentou levantar, mas já estava sem força. Ao se mexer escorregava em líquido viscoso. Arrepiou-se em desespero.
"Sangue!"
Reuniu toda a energia num supremo esforço para levantar-se. Conseguiu, mas logo escorregou no líquido viscoso e caiu sobre a mesa de centro, perdeu os sentidos, despencou para o lado, estático.
A mulher acordou assustada com o barulho. Desceu velozmente as escadas. Ao acender a luz encontrou o marido caído no chão da sala, morto, com dois tiros, um na barriga, outro no peito.
ramon belame