Momento
É simples, a simplicidade da elevação. Então o escritor joga as palavras, como búzios, tentando alcançar a verdade, e o futuro. Acontece a qualquer momento, é dessas coisas não premeditadas. Tudo em paz e comum, ao natural do mundo.
Atravesso a grande avenida, da grande cidade, então com suas grandes idéias. Sol odioso no asfalto e uma tristeza sem fim. Não há origem nas coisas, somente obras humanas no exercício de uma busca sem lógica. Então eles perpetuam o que é perecível, e blasfemam e atravessamos sobre a faixa.
Mas num instante o mundo pareceu acabar; o mundo como aqui eu conheço. Começou pelos grandes prédios, que se foram derretendo, escorrendo pela calçada, dando lugar a lindas montanhas verdes. Belo. O barulho das buzinas deu lugar a sonoridade das cachoeiras e do canto rouco do vento.
Verdadeira transmutação. A imensa avenida engoliu o asfalto, deixando terra à vista, longa estrada arborizada. Tudo mato, grande serra, imensa serra com fazendas e gados. Nuvens no céu dançando, na curva de um rio toda a minha alma debruçada, no ninho.
Mas tudo tão rápido, como um choque. Pássaros levitando e um profundo silêncio, lá dentro, onde sabemos não ter fim. Um pulo, um susto. Despertei com a buzina de um carro. Farol aberto, um xingamento. Prédios medonhos como desafios erguidos. No próprio quintal, tão longe de casa.
Choque de renovação, perfeito, entro num bar, peço uma água. Na tv assassinatos e velhas idéias formadas; tão triste, assim, a morte inventada e aceita como um doce presente de amor.
Orlando Nilha é escritor