A fugacidade do delírio cotidiano
O pão com manteiga caiu da mesa.
Papai olhou para a filha
e percebeu que ela havia crescido.
Mamãe deixou o prato ao lado de um bule
que estava solitário no canto da mesa.
Mamãe pôs-se a chorar.
Papai pegou o vinho no armário
e tomou uma dose.
O prato gostou do bule;
mamãe não queria ser como o bule.
Mais uma dose.
Papai olhou para os seios da filha - nada mal.
Mais uma dose.
Mamãe atirou o prato na parede.
Mais uma dose.
A filha sorriu mostrando o piercing.
Mais uma dose.
Mamãe não queria ser como o bule.
Mais uma dose.
Papai sacou a arma.
A filha balançou os cabelos.
Mamãe era o bule.
Mais uma dose.
Atirou
O pão com manteiga tocou o chão.
John Sobrante