latinoamerica
18.12.06
  IDÍLIO 3X4 (ou João e Maria)

Nem pensei. Juro. Saltei, afogueado. Boca de espuma.

- Pru inferno! Raio que o parta!

Fiz trovão, carnaval. A garrafa arma branca na quina da mesa.

- Não luta, João! Não luta!
- Bicho escabroso vai apanhar nos cornos!
- Ajuda! Ajuda!

Um golpe, outro, e mais outro. Desabou no centro do salão. Estribuchou, quieto, mão no pescoço. Medrando virou o zoínho, querendo piedade. Eu não sou piedoso. Você é? Larguei de bucho pra cima ainda roubei a mulher.
 
14.12.06
  Buñuel ao pé do ouvido

Image Hosted by ImageShack.us

Aquele peido foi vital para que Agenor sentisse seu corpo funcionando em perfeito estado, mesmo depois das experiências surreais com a colonoscopia. Mesmo depois de anos sentado naquela cadeira da contabilidade, resultando numa escoliose que faz sua coluna arquejar e pressionar suas tripas até elas jogarem a toalha ou produzirem algum tipo de gás ainda não catalogado. O deslocamento de ar provocado pelo que acabara de sair de suas entranhas aqueceu o acento do sofá e sua bunda gorda adotou as formas abstratas que nele foram aparecendo. Olfato viciado demais para perceber o estrago. Deu de ombros e estralou aquela que seria a sua sexta cerveja na noite. A Margarete mantinha o cabelo firme com um creme que comprou da vizinha do andar debaixo e os peitos elevados com aquele sutiã de bojo americano, mas há cinco anos havia jogado a sua toalha. 175 quilos de carne morta rebolando pra lá e pra cá o dia todo. Falava com o rádio e com os gatos. Quando fazia sopa de cebola, o vapor da panela de pressão aumentava a temperatura da cozinha e a fazia suar. Dava de ombros e tirava o sebo que se formava entre as banhas com o dedo indicador. Passava nas paredes. Dia desses o Agenor topou com ela na cama. Livrou-se das peças íntimas e ficou sobre os calcanhares. A patroa tava toda ouriçada sob a camisola. Contraiu o par de pernas enormes fazendo com que a vestimenta do desejo subisse até a altura do umbigo. Agenor coçou a cabeça ao perceber que a buceta de sua mulher diminuía de tamanho na mesma proporção em que ela ganhava peso. Os peitos cresciam em direção às nádegas. Tentou em vão ter uma ereção; fez tanta força que libertou um grito de agonia uníssono por entre suas bolas. Um gato desafortunado passava por ali na ocasião e escapuliu pela tangente. O odor deixou a mulher ainda mais excitada, logo começou a fazer movimentos cadenciados pressionando o ventre com as mãos. Tomou gosto por aquilo e os movimentos foram ficando cada vez mais rápidos. Viraram socos, dos bons, alternados na região entre o estômago e os intestinos. Mordia os beiços, uivava uma espécie de lamento há muito encarcerado em alguma parte do duodeno. O suor escorria pelas têmporas, axilas, atrás das orelhas; acumulavam os litros entre as dobras daquele monte de gordura mórbida. O calor foi aumentando e os óculos do Agenor começaram a escorrer pelo nariz. O clima foi ficando quente como o diabo e uma espécie de nuvem tomou grandes proporções e pairou sobre a cama e por todo o quarto. Margarete gritou até descolar a dentadura do céu da boca. Gritou até o céu de suor e sebo romper-se em uma garoa fina e silenciosa. E então Agenor pôde ver um cagalhão comprido e delgado sair por entre as pernas de sua esposa. Pensou em pegar o adubo com as mãos, mas resolveu ajoelhar-se sob a tempestade e pedir perdão ao senhor feudal por não ter o que plantar.
 
1.12.06
  mais do mesmo

Tenho bebido demais outra vez. Ando buscando aquela nobre fissura que movimenta os astros. Ando esquecendo telefones, endereços, nomes. Tudo pela procura da arquitetura do rumo. Trago uma conversa reprimida, uma derrocada verbal. Minhas consoantes são cristãs convictas e as vogais são velhas anarquistas. Fígado. Cansado do conflito entre o abstrato e a pedra, o sufixo e a causa. Ando meio de lado, pessimista, pagando por doses de sorte. Até me vi na fila do pão, 1 pão - e 100 gramas de mortadela. Comprando velas. Ouvindo Itamar Assumpção. Me surpreendi vacilando para abrir o portão. Choroso. Descobri que tenho medo da noite, do silêncio das casas. Acho até que prefiro a minha alma quieta, a minha mãe sossegada, o meu pai solidário. Um domingo de sol. Posso ficar pior. Lua minguante. Nuvens vermelhas de São Paulo. Avião uivando, um cachorro latindo.
 


trago?
OUTRAS COISAS
How Soon is Now? / ArteFato / Prosa Caótica


LIMBO
setembro 2003 / outubro 2003 / novembro 2003 / dezembro 2003 / abril 2004 / agosto 2004 / junho 2005 / julho 2005 / setembro 2005 / outubro 2005 / novembro 2005 / janeiro 2006 / fevereiro 2006 / março 2006 / junho 2006 / agosto 2006 / novembro 2006 / dezembro 2006 / janeiro 2007 / fevereiro 2007 / abril 2007 / agosto 2007 /


Search Engine Optimization
Chinaski was here Counter