“você é um homem de paixões exaltadas, um homem esfomeado que não sabe direito seu apetite, um homem profundamente frustrado tentando projetar seu individualismo contra um fundo de rígido conformismo. você existe num semimundo suspenso entre duas superestruturas, uma de auto-expressão e outra de autodestruição. você é forte, mas tem uma falha e, a não ser que aprenda a controlá-la, a falha acabará mais forte que sua força e o derrotará. a falha? reação emocional explosiva, desproporcional ao motivo. por quê? por que esta ira desarrazoada diante dos que estão felizes e satisfeitos - este desprezo cada vez maior pelas pessoas e o desejo de magoá-las? está certo, você pensa que são tolas, que as despreza por sua moral; a felicidade delas é a origem da sua frustração e de seu ressentimento. mas são horríveis inimigos que leva consigo: com o tempo, tão destruidores como balas. mas as balas, felizmente, matam suas vítimas. esta outra bactéria, deixada envelhecer, não mata um homem, mas deixa em seu rastro o casco de uma criatura arrasada e torcida. ainda há fogo em seu ser, mas o mantém vivo alimentando-o com os vermes do desprezo e do ódio, os bichos da terra. pode acumular com sucesso, mas não acumula sucessos, pois é seu próprio inimigo e não lhe é permitido desfrutar de suas conquistas”.
(Truman Capote em “A Sangue Frio”)